13 de Junho de 1964
“Le pays
sait bien que l’État, la République et notamment sa tête, doivent être la
représentation ferme, continue, impartiale, de l’interêt général… Pour plus
tard, je ferai en sorte, pour ma part, qu’il en soit ainsi encore, comme il en
est ainsi aujourd’hui».
(De Gaulle, em Soissons, 11 de Junho de 64)
Os regimes de
poder pessoal vivem assim entre a nostalgia e a caricatura do poder monárquico.
A
“imparcialidade” do General De Gaulle passa de facto as marcas…
“Moi, que incarne depuis vingt ans la legitimité
de la France… » (citação de cór).
Como ele
gostaria que isso assim fosse na realidade e não só nas suas palavras!
Mas bastaria,
até, a ânsia do poder para revelar a sua ilegitimidade. O poder legítimo recebe-se
como um encargo e uma missão – não se conquista nem se compra.
Em resumo:
tudo isto revela, mais uma vez, o que o próprio De Gaulle sabe – que um
presidente saído do sufrágio não é, nem pode ser nunca, “representação firme,
contínua e imparcial” mais que de uma fracção, e nunca do interesse geral.
«
A
“legitimidade” que De Gaulle se atribui parece porém transcender o próprio
sufrágio.
Numa das suas
frases inesquecíveis disse:
“Je me suis fait une idée de la France ».
Se bem conheço
a psique do senhor, quer-me parecer que está aqui a chave do enigma: De Gaulle é o poder legítimo da França porque só
ele tem uma ideia justa da França (da
sua grandeza, da sua missão, do seu lugar no mundo).
Estamos, pois,
perante uma pseudo legitimação de tipo ideológico – Hitler também tinha uma
ideia da Alemanha; Staline tinha uma ideia do comunismo.
Nunca um Rei
“se fez uma ideia” da sua Pátria.
O Rei de
Portugal terá o pesado encargo de reinar sobre os portugueses. E basta.
Cumprirá a
estes terem as ideias. Mas sobretudo realizarem os feitos.
Rivera Martins de Carvalho in
Diário Político e outras páginas, Biblioteca do Pensamento Político, 1971
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