“…Para além destas aparências, o
grave problema de Portugal continua a ser o do alheamento político efectivo de grande número de portugueses.
Assim, para a
maioria dos franceses na Quarta República, o poder era o parlamento e os políticos,
o poder, com os seus méritos e responsabilidades, eram «eles». Assim, para o
francês de hoje, o poder é De Gaulle. É «ele».
E quando, para
os cidadãos, o poder são «eles ou «ele», falta à verdadeira política o seu
fundamento verdadeiro - a participação
dos governados, efectiva e reconhecida como tal. Trate-se de democracia
presidencialista ou parlamentar, de regime fascista ou socialista, o poder
político tem de ser percebido como algo próprio, algo «nosso». Quando já se não
diz naturalmente o «nosso Governo», mas o «Governo», cessou a participação e
começou o alheamento.
Tocamos aqui
numa das principais categorias políticas, à qual tornaremos um dia mais de
espaço. Fique só bem clara a noção de que a um poder, mesmo em si legítimo,
falta uma nota essencial se não tiver a participação,
e só o alheamento dos governados.
...Para além dos possíveis obstáculos, importa participar na política portuguesa, na política de Portugal - por coerência com nossa dignidade própria, por piedade para com os nossos irmãos, por fidelidade à Pátria de todos os portugueses.
Mas participar não será dividir? Participar, tomar parte, não será recusar o todo? A participação, acto por natureza individual, não dividirá o social e o político?
O alheamento, de facto, não divide - mas estiola. Atitude de homem-massa, o alheamento não distingue na razão, mas apaga no olvido.
A Política, regra do convívio humano de homens concretos, pode e deve suportar as claras antinomias da razão. A individualidade dos homens, longe de pôr a Política em perigo, é a razão última da sua existência. E os riscos da participação são afinal os mesmos riscos de todo o convívio autênticamente humano, os riscos de toda a política.
Fora dela só a anarquia e a tirania, Política verdadeira é, por natureza, a que vive porque integra as várias participações individuais, vivas e distintas.
Se tudo isto é verdade política, é verdade evidente para monárquicos.“
...Para além dos possíveis obstáculos, importa participar na política portuguesa, na política de Portugal - por coerência com nossa dignidade própria, por piedade para com os nossos irmãos, por fidelidade à Pátria de todos os portugueses.
Mas participar não será dividir? Participar, tomar parte, não será recusar o todo? A participação, acto por natureza individual, não dividirá o social e o político?
O alheamento, de facto, não divide - mas estiola. Atitude de homem-massa, o alheamento não distingue na razão, mas apaga no olvido.
A Política, regra do convívio humano de homens concretos, pode e deve suportar as claras antinomias da razão. A individualidade dos homens, longe de pôr a Política em perigo, é a razão última da sua existência. E os riscos da participação são afinal os mesmos riscos de todo o convívio autênticamente humano, os riscos de toda a política.
Fora dela só a anarquia e a tirania, Política verdadeira é, por natureza, a que vive porque integra as várias participações individuais, vivas e distintas.
Se tudo isto é verdade política, é verdade evidente para monárquicos.“
Rivera Martins de Carvalho in
Diário Político e outras páginas (pág. 160) - 1961
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