..."Indubitavelmente este país
transborda de homens grandes, de profundos estadistas. Aqui o estadista nasce,
como nasce o poeta; precede a escolha: dispensa-a, até. Sou o primeiro a
confessá-lo. E a paixão dos homens grandes, dos profundos estadistas, é a salvação
da pátria: é a sua vocação, o seu destino, a sua suprema felicidade. Esses
varões ilustres pertencem, porém, ao país: é do país que devem ser deputados.
Entendem-no eles assim, e parece-me que entendem bem. Em tal caso, eleja-os o
país. Quando algum vos mendigar de porta em porta, e com o chapéu na mão, os
vossos votos, respondei-lhe, como os eleitores dos diversos círculos do reino
lhe responderiam, se o são juízo fosse uma coisa desmesuradamente vulgar:
«Somos uma pobre gente, que
apenas conhecemos as nossas necessidades, e queremos por mandatário quem também
as conheça e que nelas tenha parte; quem seja verdadeiro intérprete dos nossos
desejos, das nossas esperanças, dos nossos agravos. Se os deputados dos outros
círculos procederem de uma escolha análoga, entendemos que as opiniões
triunfantes no parlamento representarão a satisfação dos desejos, o complemento
das esperanças, a reparação dos agravos da verdadeira maioria nacional sem que
isto obste a que se atenda aos interesses da minoria, que aí se acharão
representados e defendidos como se representa e defende uma causa própria. Na
vulgaridade da nossa inteligência, custa-nos a abandonar as superstições de
nossos pais: cremos ainda na aritmética, e que o país não é senão a soma das
localidades. Homem do absoluto, das vastas concepções, se a vossa abnegação
chega ao ponto de solicitar a deputação do campanário, fazei que vos elejam
aqueles que vos conhecem de perto, que podem apreciar as vossas virtudes, o
vosso carácter. Certamente vós habitais nalguma parte. Se não quereis
abater-vos tanto, arredai-vos da sombra do nosso presbitério, que ofusca o
brilho do vosso grande nome. Sede, como é razão que sejais, deputado do país.
Não temos para vos dar senão um mandato de campanário.»
A resposta dos eleitores aos
estadistas parece-me que deveria ser esta."
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