http://www.maltez.info/ respublica/topicos/aaletrab/ braga,_l._a..htm |
...Nada melhor que a Arte conserva e
ennobrece a Tradição. A indústria, o comércio, a lavoura tornam a vida mais
fácil, mas é a sciência, a arte e a literatura que lhe dão beleza e lhe dão
encanto.
...A literatura é a clara linguagem
da alma da Pátria, a embaladora voz que a entretem e canta. Por isso o melhor
escritor é aquele que mais enternecidamente e mais profundamente sabe mostrar-se
homem da sua raça.
Para lá da vontade dos govêrnos,
e da mesma sorte que as leis e as guerras, são as estátuas, os monumentos, as crónicas
e os poemas que formam as nações.
...Se o povo que um dia cair escravo
souber conservar o amor da sua língua, consigo terá sempre guardado o segrêdo
da sua liberdade, - promete o verso célebre de Mistral. Ainda há ignorantes ou irreflectidos que julgam ser os poetas, na vida do país, simples ornamento. Para êsses, tem
foros de verdade o paradoxo de Platão, e a sentença de Aristóteles - a Poesia é
mais profunda e mais filosófica do que a História — não a entendem sequer. Ora
um poeta como Camões, animador e mantenedor do espírito nacional, é para a
gente da sua fala elemento essencial do banquete da vida, pão de puro fermento,
que a admiração e a reflexão multiplicam. A sua obra, tal uma fôrça da natureza
agindo inteligentemente, a pouco e pouco produz, em tôdas as ordens do
pensamento e através das mais altas ondas de incertezas e dificuldades, profundas
e benéficas transformações.
Eu não sei de melhor formador de
homens, nem conheço mais certo guia de acção que o poeta vivíssimo de Os Lusíadas. A leitura dêsse poema é
estímulo constante aos mais nobres cometimentos da vida. Para a gente da nossa
língua e do nosso sangue, Os Lusíadas
não são lugar de paz ou de meditação filosófica: são escola de todas as energias
que se chamam audácia, vontade, amor; numa só palavra – são uma lição de vida estrénua.
Não é o silêncio das coisas
mortas que ao ler os versos de Camões invade a nossa alma; é o clangor épico de
uma trombeta de guerra que a atravessa, e nos deslumbra e chama. Vinde ouvi-lo
também , lusíadas novos, meus amigos e meus irmãos!
Uma geração que vá educar-se ao
calor das rimas camoneanas, vejo-a eu já heróica, forte, bela, máscula, palpitante
de tôdas as energias primitivas da terra.
Extracto de Conferência realizada na Faculdade de Direito de São Paulo (Brasil)
Luis de Almeida Braga in Paixão e Graça da Terra, 1932, Livraria Civilização
Sem comentários:
Enviar um comentário