sábado, 1 de outubro de 2011

Textos em defesa da língua (1) - Luis de Almeida Braga


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braga,_l._a..htm
...Nada melhor que a Arte conserva e ennobrece a Tradição. A indústria, o comércio, a lavoura tornam a vida mais fácil, mas é a sciência, a arte e a literatura que lhe dão beleza e lhe dão encanto.
...A literatura é a clara linguagem da alma da Pátria, a embaladora voz que a entretem e canta. Por isso o melhor escritor é aquele que mais enternecidamente e mais profundamente sabe mostrar-se homem da sua raça.
Para lá da vontade dos govêrnos, e da mesma sorte que as leis e as guerras, são as estátuas, os monumentos, as crónicas e os poemas que formam as nações. 
...Se o povo que um dia cair escravo souber conservar o amor da sua língua, consigo terá sempre guardado o segrêdo da sua liberdade, - promete o verso célebre de Mistral. Ainda há ignorantes ou irreflectidos que julgam ser os poetas, na vida do país, simples ornamento. Para êsses, tem foros de verdade o paradoxo de Platão, e a sentença de Aristóteles - a Poesia é mais profunda e mais filosófica do que a História — não a entendem sequer. Ora um poeta como Camões, animador e mantenedor do espírito nacional, é para a gente da sua fala elemento essencial do banquete da vida, pão de puro fermento, que a admiração e a reflexão multiplicam. A sua obra, tal uma fôrça da natureza agindo inteligentemente, a pouco e pouco produz, em tôdas as ordens do pensamento e através das mais altas ondas de incertezas e dificuldades, profundas e benéficas transformações.
Eu não sei de melhor formador de homens, nem conheço mais certo guia de acção que o poeta vivíssimo de Os Lusíadas. A leitura dêsse poema é estímulo constante aos mais nobres cometimentos da vida. Para a gente da nossa língua e do nosso sangue, Os Lusíadas não são lugar de paz ou de meditação filosófica: são escola de todas as energias que se chamam audácia, vontade, amor; numa só palavra – são uma lição de vida estrénua.
Não é o silêncio das coisas mortas que ao ler os versos de Camões invade a nossa alma; é o clangor épico de uma trombeta de guerra que a atravessa, e nos deslumbra e chama. Vinde ouvi-lo também , lusíadas novos, meus amigos e meus irmãos!

Uma geração que vá educar-se ao calor das rimas camoneanas, vejo-a eu já heróica, forte, bela, máscula, palpitante de tôdas as energias primitivas da terra. 

Extracto de Conferência realizada na Faculdade de Direito de São Paulo (Brasil)
Luis de Almeida Braga in Paixão e Graça da Terra, 1932, Livraria Civilização

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