A eleição é
uma escolha e, com tal, pressupõe divergências de opiniões, a discussão
generalizada e a divisão do país em volta dos candidatos propostos.
No ardor das
campanhas eleitorais exasperam-se as paixões partidárias, originam-se
conflitos, cavam-se fundas dissenções entre os homens públicos, com vincados
reflexos no seio da população.
Nos períodos
eleitorais respira-se a atmosfera de uma guerra civil. Depois ficam, difíceis
de cicatrizar, as feridas abertas no corpo e na alma da Nação… E quando no
decorrer do tempo poderiam começar a atenuar-se os efeitos perniciosos de
divisão eleitoral, eis que outra eleição se aproxima reavivando todos os males.
Quem não vê
que o mecanismo da chefia republicana é um factor periódico e persistente de
desunião e de luta interna?
Quem não vê
que o acto fundamental e mais solene do sistema republicano é aquele que mais
fere e contraria a unidade nacional?
Como nos pode
prometer união um regime que nos obriga contràriamente à divisão e à luta?
E como há-de
um Presidente, eleito por um sector da população, em guerra contra outros
sectores da população, simbolizar e exprimir uma unidade nacional?
Em
contraposição, o Rei é o chefe de Estado que não se apresenta como um candidato
entre demais, nem se vota, nem se discute, não suscita desuniões. Situado num
plano superior ao debate político, a sua chefatura tem um carácter nacional, e
pacifica, coordena, congrega, unifica.
Em República
os governos fazem frequentemente apelo à unidade, mas entendem-na como adesão e
apoio, pelo menos condescendência à sua política.
A unidade republicana
pretende ser unanimidade e como ela é impossível, simula-a, frequentemente,
reduzindo ao silêncio as vozes discordantes. É nesse momento propício que se
concentram e reforçam os poderes, em prejuízo das liberdades…
Em Monarquia a
unidade estabelece-se sem constrangimentos nem perdas cívicas, sobe a variedade
e a diversidade, respeitando-as, porque existe o que não existe em República –
um denominador comum, que se chama o Rei.
O conceito da
unidade monárquica não é o de unanimidade política; é o da harmonia do conjunto
nacional.
Mário Saraiva in Razões Reais,
Biblioteca do Pensamento Político, 1970
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