"…
A
Nacionalidade constitui-se por sucessivos pactos, a um pensamento constante de
aliança entre o Príncipe e o Povo, aliança que, não sendo solenemente
proclamada, não foi por isso mais curta ou menos fecunda.
As expressões dêsse pacto político dá-las-hiam os
forais dos concelhos, outorgados pelos Reis ou pelas Ordens Militares, e muitas
vezes não eram essas cartas mais do que títulos de liberdades e privilégios de
que os povos já gozavam de facto e que a intervenção do Poder Real vinha
confirmar solenemente.
…
O grito
popular de Aqui d’El-Rei!, como apêlo
de urgência ao Soberano contra uma opressão ou ameaça violenta, testemunha
claramente a confiança na sua justiça que era e deve ser a primeira função
real.
E bem nos
parece hoje, em que ele deixou de ser ouvido, que não anda mais bem servida a
ordem, nem são em menor número as agressões e os crimes impunes. (1)
Mais do que nunca, sentimos o impulso de continuar
gritando – Aqui d’El-Rei!, para que o sceptro real depressa venha a ser direita
vara de justiça."
Hipólito
Raposo in Dois Nacionalismos, 1929
(1)
Numa inquirição
em que interveio Afonso Lucas, uma das testemunhas que em certa desordem ouvira
gritos de Aqui d’El-Rei!, declarava
ter ouvido bradar: Às armas do nosso govêrno!, em perfeita contradição com os
restantes depoimentos. O discreto cidadão, adaptava uma certeza real a um dever
de cortesia política para com as Instituições Vigentes, dando assim ao tribunal
um sábio exemplo de compostura e disciplina…
Mas em todo o caso, não deixa de ficar patente a
fraqueza deste novo grito de socôrro republicano a uma entidade incerta e
mudável, em vez do apêlo pessoal, directo, á intervenção do Soberano, que há
vinte anos ainda eu ouvia nos ralhos e desordens da minha vila natal, sob a
forma arcaica de - Aca del Rey!, como
nos tempos de D. Pedro, o Justiceiro.
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